quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Desabafo profundo...

A vulnerabilidade assusta-me cada vez mais. Devo falar do que me perturba mas, a coragem escasseia. A escrita é e sempre foi o meu melhor refugio. Este é o meu espaço, é onde ponho pedaços de mim.

Toda esta azáfama em que me encontro envolvida com a inscrição na Universidade, trouxe ao cimo as minhas maiores mágoas.
Durante uma semana, andei a preparar o meu "Personal Statement" que é o documento mais importante para quem quer um lugar na Universidade. Devemos falar de nós, da nossa experiencia de vida e do porquê da escolha do curso.

Sempre quis formar-me em criminologia. Porquê?!
Quem me conhece por dentro sabe onde está o inicio de tudo isto.

Nos meus irmãos.
Quando tinha 10 anos, a palavra "droga" entrou na minha casa e na minha familia como um furacão sem aviso. O meu irmão mais velho estava completamente envolvido neste mundo que toda a familia foi obrigada a conhecer também. Na altura ainda era um pouco tabu e não se falava tanto sobre este assunto. Foi um combate muito duro que nunca se chegou a vencer.
Alguns anos mais tarde, a rebelião (ainda sem droga) atinge o meu irmão mais novo. Um furacão de novo que desta vez leva o casamento dos meus pais. E eu...estive sempre lá no meio de tudo.
Tentava ser boa aluna, combatia todas as más opções com toda a minha força. Pelo caminho ia sempre ouvindo frases que até hoje não saem da minha memória:
-Não dês nenhum desgosto aos teus pais!
-És a unica que não dás preocupações!
Nunca ninguém imaginou o peso e o desconforto que era para mim, ter que batalhar sozinha contra tudo. Gritar silenciosamente tornou-se a minha especialidade.
Ir visitar os meus irmãos à prisão faz parte da minha vida...até aos dias de hoje.
Porque nunca se integraram? Porque aconteceu assim?
Vi os anos passarem e os meus pais a entregarem-se à ideia que é assim.Simplesmente assim.
A minha mãe trabalhava 14 horas por dia, com uma folga apenas para não faltar com o essencial aos meus irmãos, na cadeia. Juntamente com a minha mãe, estávamos a tentar dar uma vida decente ao meu querido sobrinho mais novo, que com o pai na cadeia e a mãe (toxicodepente e em parte incerta) também estava com muitos problemas de instabilidade e sózinho no Mundo.
Nunca foi fácil, mas estávamos a fazer o que nos era possivel.
Até que um acidente de automóvel tirou a vida à minha mãe.

O mundo fugiu do meu chão. Fiquei sem condições de reagir à vida. Atingi um ponto de ruptura que me teria destruido se não tivesse vindo para longe. Precisei encontrar-me de novo, mas...pelo caminho, tive que deixar o meu sobrinho numa instituição. A pior decisão que já tomei em toda a minha vida! Amo-o muito mas, não fui capaz! Ele precisa de cuidados que eu não seria capaz de lhe dar. Eu sei que um dia vou provar a mim própria que essa era a unica solução mas, saber viver com isso...não sei se sou capaz. Luto todos os dias para me convencer que não havia mais nada a fazer mas, a dor cá dentro é algo que não consigo explicar.

Porquê criminologia?! Serei capaz no futuro de fazer o que não consegui com os meus irmãos?!
Serei capaz de evitar que algumas familias passem o que passei?
Só o futuro dirá.

Neste momento, estou vazia, estou triste.
Precisava de um colo que já não tenho.
Preciso de força e não sei onde ir buscá-la.
.


1 comentário:

Andrea disse...

My soul agarra-te a quem te ama, sabes quem somos e estamos contigo sempre!
adoro-te forever in my heart and my soul